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Afoxé Omo Inã: a força de Iansã na comunidade da Mangabeira

 

Em 2011, o presidente do Afoxé Omo Inã, Anderson Santos, sonhou com Iansã, a orixá dos ventos e das tempestades. Neste sonho, a divindade pedia para que o rapaz, que na época tinha 17 anos de idade, lhe desse um presente. Sem compreender o que era ele contou ao irmão e também babalorixá, o zelador Jefferson Nagô sobre o acontecido.

 

A casa de Jefferson, um duplex localizado na comunidade da Mangabeira, na Zona Norte do Recife é bastante movimentada. De instante em instante aparece um filho de santo pedindo ajuda espiritual ou um amigo para conversar horas e horas. No mesmo espaço, além do Afoxé, existe um Maracatu, o Encanto da Alegria, e um caboclinho, O Carijós do Recife, a tribo mais antiga de Pernambuco. Próximo ao carnaval, o fluxo de gente multiplica. Várias pessoas se hospedam lá para confeccionar as indumentárias desses brinquedos. Foi justamente nessa época que aconteceu o sonho misterioso.

 

Reunidos no ateliê de produção, enquanto confeccionavam um estandarte, Anderson comenta com o irmão sobre o pedido da divindade.

 

- Mas o que ela quer? Perguntou o rapaz.

- Precisamos consultar os búzios para saber. Respondeu o babalorixá.

 

Foi neste momento, através da consulta ao oráculo que se confirmou o pedido: um afoxé. No ano seguinte, em 2012, fundava-se a entidade cultural em homenagem à Oyá.

Afoxé Omo Inã em apresentação na comunidade da Mangabeira. Foto: Samuel Calado

Omo Inã significa “Filhos do Fogo”. Jefferson explica que o Orixá Oyá está inteiramente ligado ao elemento: “Sem ela não há fogo, não há vento”. Esta divindade possui ligação direta com os eguns, pessoas que já desencarnaram e ainda estão no plano espiritual para cumprir alguma missão. Dentro das casas de Candomblé, sempre que se faz o culto aos antepassados, se clama por ela.

Esse orixá carrega nas mãos dois elementos, um eruexim, instrumento confeccionado com o rabo do búfalo e uma espada que remete à guerra. Sendo símbolo do empoderamento feminino negro, Iansã, nas histórias, iansã está sempre lutando para proteger os seus filhos. Anderson - que carrega esse orixá na cabeça e no coração -, se emociona sempre que fala da divindade: “Ela abriu muitas portas para mim. Se hoje sou quem sou, devo isso a ela”. Foi a partir do amor de um filho por sua mãe que o Afoxé Omo Inã.

Com cerca de 5 anos, atualmente o grupo conta com aproximadamente 30 componentes. Os encontros ocorrem sempre aos domingo, no largo da Mangabeira, ao lado de um bar. O dono do estabelecimento, o senhor José Ferreira é quem aborda os integrantes durante a semana para perguntar se haverá ensaio. Ele sempre fornece água e um ponto de tomada para ligar o som nos ensaios. “É lindo ver o grupo cantando e dançando. Isso me faz lembrar da época que eu era mais jovem e participava dos ensaios. Eu observo a dificuldade desse pessoal no cotidiano para manter o brinquedo e me sensibilizo”, relatou. 

Mestre Pinha Brasil cantando no Afoxé Ará Omim. Foto: Samuel Calado 

O diretor de percussão e vocalista, mestre Pinha Brasil, está no grupo desde a sua formação e fala que além do trabalho com música ele se preocupa bastante com a parte social. “Temos crianças e adolescentes que muitas vezes saem de casa de almoçar porque não tem o que comer. Aqui, a gente se preocupa muito em acompanhar esses jovens, dando-lhes um apoio de pai quando estes não possuem pai e de família quando esta não existe”, desabafa o músico, que além do afoxé também coordena o Coco Virado, no Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife.  

É partindo desse conceito de família que esses integrantes aprendem a cantar, a tocar e a interpretar o mundo, como fala a vice-presidente Bernadete Guimarães. “O grande papel social do afoxé é resgatar as pessoas da rua e mostrar para elas que a família verdadeira é aquela que ensina crescer.  Dentro do grupo, além de aprender a tocar, a cantar e a dançar, eles são instruídos a buscar um futuro através da educação, dessa forma, estando bem distante das drogas”, relata.

O estudante Jonathan Filipe, de 19 anos, narra que o afoxé trouxe uma nova oportunidade para sua vida. “Foi a partir dos encontros que eu me tornei uma pessoa mais responsável e dedicada nos estudos. Quero ser como o meu mestre, um grande músico e poder ajudar outros jovens”.

Jonathan Filipe no Afoxé Omo Inã. Foto: Samuel Calado

Segundo Pinha, a sonoridade do afoxé é marcada pelos seguintes instrumentos:

Mas, além da percussão, o afoxé conta com um núcleo de dança coordenado pelo educador social Jefferson Belarmino. O rapaz explica que durante os ensaios, existe um imenso diálogo entre os demais e que a construção das coreografias é coletiva. “A gente se reúne sempre, tanto aqui na sede do afoxé quando em outros espaços, como no parque da Jaqueira. Nesses encontros, cada um vai mostrando o que sabe e juntos formamos uma coreografia. Sempre respeitando a tradição vinda dos terreiros”. Jefferson não é do Candomblé, mas tem bastante carinho pela militância que a religiosidade faz contra o racismo e a intolerância. 

Jefferson Belarmino, coordenador de dança do Afoxé Omo Inã. Foto: Samuel Calado. 

A parte espiritual do grupo fica sob a responsabilidade do babalorixá Jefferson Nagô dentro do Centro Espírita Cigana Saray, localizado na Rua Coremas, no mesmo bairro. Ele fala que não se pode fazer nada sem consultar os orixás. “Tudo é preciso confirmar para que nada saia do eixo. A gente joga os búzios e pergunta ao orixá se o que estamos fazendo está certo ou errado”.

O sacerdote acrescenta que antes das festividades de carnaval, existe um encontro com os integrantes do grupo para pedir proteção. “Neste momento, pedimos a divindade para nos proteger nos caminhos e preparamos a nossa Yalotin para afastar todas as energia negativas”, explica.

Hierarquia no afoxé

Presidente: Anderson Santos

Vice-presidente: Bernadete Ramos

Diretor de Alabê: Pinha Brasil

Diretor de Dança: Jefferson Belarmino

Conselho fiscal: Goreth Guimarães

Tesoureiro: Goreth Guimarães

Secretaria:

Conselho Religioso: Jefferson Nagô

Terreiro: Centro Espírita Cigana Saray, na Comunidade da Mangabeira.

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