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Afoxé Alafin Oyó no Mercado da Ribeira, localizado no Sítio Histórico de Olinda. Foto: Samuel Calado

ALAFIN OYÓ: 32 ANOS DE RESISTÊNCIA NEGRA

 

Fazer reverência a Xangô, um dos principais orixás das religiões de matriz africana no Brasil. Com muita devoção é isso o que fazem os integrantes da Associação Recreativa Afoxé Alafin Oyó, um dos afoxés mais antigos e militantes do estado de Pernambuco. Esta é a divindade que rege o grupo. Seu nome, de origem iorubá, significa ‘o senhor dos palácios’, ligado diretamente à quarta liderança do reino de Iorubá, onde hoje fica a Nigéria, no Continente Africano.

Mirela Cavalcanti, vocalista do Alafin em apresentação na Noite do Cabelo Pixaim 2017. Foto: Samuel Calado

Fundado no dia 02 de março de 1986, o grupo nasceu dentro do primeiro afoxé do estado, o Ilê de África (casa da africanidade) formando a ala política da entidade junto com o Movimento Negro Unificado (MNU). Sua sede está localizada na comunidade do V8, no Sítio Histórico de Olinda, onde oferece diversas oficinas, encontros, eventos e formações. Com essas atividades, o grupo atende mais de 12 comunidades consideradas de alto índice de vulnerabilidade social, entre elas, Amaro Branco, Peixinhos, V8, V9, Vila Popular e Varadouro.

Fabiano Santos, presidente do Afoxé Alafin Oyó. Foto: Samuel Calado

Tendo em sua raiz o cunho político, a entidade foi fundada com a intenção de reunir pessoas de diversas regiões e segmentos sociais, sendo elas religiosas ou não. O importante para os líderes do grupo é que fizessem a militância pela igualdade racial, combate à intolerância religiosa e acesso igualitário à educação. O presidente do afoxé, Fabiano Santos conta que a intenção do grupo foi ter sua atividade para o além do período de carnaval. “O Alafin Oyó surgiu como um espaço de articulação pela afirmação da identidade africana no Brasil e contra o racismo”, destaca.  

Por questões de Direitos Autorais, a reprodução do conteúdo só poderá ser feita mediante contato com o produtor. 

O Alafin sentiu na pele o gosto amargo da repressão militar do estado. Principalmente contra as manifestações de fé da religiosidade de matriz africana. Enquanto ala do Ilê de África, chegou a levar pedradas nos cortejos e correr dos tiros. Mas o povo de Xangô não teme à luta. Com sangue justiceiro e a força de uma pedreira resistiu aos mártires e continuou levando a mensagem contra as desigualdades.

 

Com as cores vermelho e branco, que remetem ao orixá Xangô, o Alafin desfila todos os anos nas ruas do Sítio Histórico saudando Caô, Cabiécilé!  que significa “Boas vindas ao senhor da terra”. Além do carnaval, o grupo realiza outros eventos. Entre essas atividades destacam-se a Noite do Cabelo Pixaim, que é realizada sempre no mês de novembro no Mercado da Ribeira e o Festival de Música do Alafin que incentiva a criação de letras sobre a militância negra.

Fabiano explica que a musicalidade do Alafin respeita a tradição do Candomblé Nagô, com exceção do Ijexá, que é um ritmo da Nação de Candomblé Ketu. “Nós tocamos o Alujá que é dedicado a Xangô e o Egó tocado para Oyá”, explica.

 

Além dos ensaios, o grupo oferece atividades de formação educativa, entre as ações estão oficinas de artesanato, dança, roda de debates e seminários com o objetivo de inserir os integrantes no mercado de trabalho. Entre as ações está o curso de produção de projetos para o Funcultura, que tem a intenção de estimular a produção intelectual no grupo e a inserção nas universidades.

 

O diretor de patrimônio João Raimundo é um dos moradores da comunidade do V8 e iniciou no afoxé em 2010, quando o grupo tinha um projeto de inclusão digital na localidade. Para ele, o Alafin foi apresentou uma outra perspectiva de vida. “Através dos ensinamentos de dentro do afoxé, pude perceber como a cultura transforma. Tudo o que sou devo a esta família vermelha e branco”, disse.  

Taciana Arruda, integrante do vocal do Afoxé Alafin Oyó. Foto: Samuel Calado

Taciana Arruda está há 16 anos no Alafin. Ela toca agogô e produz o figurino dos grupo. Conta que já viu a realidade de muita gente mudar dentro da comunidade. “Hoje, quando um entra na universidade ou em um curso técnico é uma vitória para gente. É bom ver o nosso povo buscando estar onde merece estar”, destaca.  

A vocalista e compositora Mirela Santos descobriu o talento para escrever músicas dentro do afoxé. “Eu tinha muita muita vergonha, então geralmente não escrevia muito porque achava que as pessoas não fossem gostar. Foi aqui no Alafin que eu fui ouvida”. A jovem participou em 2015 do festival de música que o afoxé promove e ganhou em terceiro lugar. “Eu nem sabia que estava concorrendo. Fizeram a inscrição sem eu saber. Quando vi, ganhei em terceiro lugar. Fiquei tão feliz”, declara. Mirela mora na comunidade do Amaro Branco e relata que o afoxé para ela também um espaço de libertação.

A dança no Alafin respeita e reverencia cada divindade do panteão africano. A bailarina e coreógrafa do grupo, Maria Luiza, explica que é feito um estudo aprofundado dentro dos terreiros para a execução de cada movimento. “Somos o candomblé na rua, logo, precisamos mostrar essa ligação que temos com o sagrado e nos orgulhar disso. De Exu a Oxalá, todos os orixás são respeitados e nos movimentos.

Bailarina do Afoxé Alafin Oyó. Foto: Samuel Calado

As músicas do Alafin retratam a luta do povo negro no cotidiano. Quando se fala em luta, se fala no combate ao racismo, na falta de oportunidade e na intolerância religiosa. O alabê Leonardo Azevedo esclarece que essa luta não é uma luta com saudade, mas sim como uma forma de lembrar da condição que o povo negro ainda se encontra. “Nós não temos acesso igualitário à educação, não temos saneamento básico e somos empurrados todos os dias para a margem da sociedade, quando cantamos, denunciamos e reivindicamos essa isonomia tão falada em nosso território, mas não cumprida”.

Vocalista do Afoxé Alafin Oyó. Foto: Samuel Calado 

Atualmente o afoxé conta com cerca de oitenta integrantes, entre alabês, bailarinos e desfilantes. Muitos deles nasceram dentro do grupo, ou seguem por admiração ao trabalho executado. O grupo completa 32 anos de história em Pernambuco. Um dos Afoxés mais antigos cuja maturidade e simplicidade excedem ao olhar. Uma instituição preparada que transforma os ‘ninguém’ em ‘também’. Também quer ser ouvido, também existe, também vive. É o povo de vermelho e branco que sobe as ladeiras do Sítio Histórico pedindo justiça. Justiça pelos antepassados, reis e rainhas escravizados no Brasil que após a abolição foram empurrados para os morros. Encurrados entre vielas e celas. 

Hierarquia do afoxé

Presidente: Fabiano Santos

Vice-presidente: Adonias Gerônimo (Mestre Zulu)

Diretor de Alabê: Leonardo Azevedo

Conselho fiscal: Rayane Radarane

Tesoureira: Fátima Félix

Secretário: Fabyola Silva

Conselho religioso: Fabiano Santos

Diretor de Patrimônio: João Raimundo (bacural)

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