
Oxum e os tocadores do Afoxé Filhos de Dandalunda. Foto: Samuel Calado
AFOXÉ E CANDOMBLÉ
O afoxé leva para as ruas a força do Candomblé, logo, torna-se impossível dissociá-los. Cada grupo tem um orixá patrono que protege a entidade cultural. Este Deus africano exerce forte influência na estética, na musicalidade, nos movimentos e nas vestimentas do coletivo. Orixás são divindades cultuadas nas religiões de matriz africana ligadas a natureza. No Alafin Oyó tem-se Xangô (ligado a justiça); no Omo Inã é Oyá/Iansã (a deusa dos ventos e das tempestades) que protege o grupo; no Ara Omim quem rege os caminhos é Iemanjá (a rainha dos mares e da maternidade); No Obá Iroko, é o orixá Iroko (árvore da ancestralidade) e nos Filhos de Dandalunda é a Oxum (fertilidade, amor e águas doces).

Representação do Orixá Iroko do Afoxé Obá Iroko. Foto: Samuel Calado
Quem tem a responsabilidade de zelar pela questão espiritual da comunidade é o babalorixá (homem) ou a yalorixá (mulher), conhecidos também como pai e mãe de santo. São aqueles que lideram os cultos, executam os fundamentos religiosos e invocam o sagrado. O zelador do Afoxé Omo Inã, Jefferson Nagô (Pai Jefferson), da comunidade da Mangabeira, na Zona Norte do Recife, explica que antes do carnaval existe um culto para pedir proteção aos deuses. “Na cerimônia participam as lideranças do grupo e os integrantes que possuem uma certa aproximação com a religiosidade. Um afoxé sem uma casa de Candomblé se torna fraco, sem axé”, explica o babalorixá.
Na celebração primeiro saúdam o orixá Exu, ligado à criação e a comunicação. Para esta divindade é oferecido o ‘Padê’, uma espécie de farofa de mandioca preparada com dendê e pimenta. Entre as saudações, cantam Agô, Agô lonan, que quer dizer "licença, licença Exu". Em seguida, são saudados os outros orixás do panteão e também os antepassados, conhecidos como eguns. Na ocasião, preparam alguns banhos de ervas especiais com o propósito de proteger o corpo e equilibrar as energias para a festividade considerada como ‘a festa da carne’. “Na obrigação, louvamos as nossas divindades e pedindo proteção espiritual para o nosso povo”, relata Pai Jefferson.
“Um afoxé sem uma casa de Candomblé se torna fraco, sem axé”. Jefferson Nagô
No culto, há também o preparo espiritual da Yalotin ou Babalotin, um boneco feito com de madeira talhada, extraído da árvore sagrada Iroko. O presidente do Omo Inã, Anderson Delaveiga, conta que este elemento sagrado protege os participantes na avenida. “Ele representa o orixá que rege o grupo e vem a frente do cortejo junto com o estandarte. Levando a paz e tirando todo o mal do caminho”, relata.

Yalotin do Afoxé Filhos de Dandalunda. Foto: Samuel Calado
A diferença entre Yalotin e Babalotin está no orixá que rege o coletivo como conta Pai Jefferson. “Se este for masculino (boró) é babalotin e se for feminino (Yabá) é Yalotin. Geralmente eles ficam guardados o ano inteiro dentro dos terreiros e só saem nas festividades carnavalescas. Sem esse boneco, o afoxé não tem vida, não tem brilho e não tem cor”, explica.
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